Eu acho importante ler este livro porque…
Por Cristina Carlos, angolana
Eu gosto do Pepetela, nasceu lá, viveu lá e foi por Angola que lutou quando podia ter escolhido fugir. Fala português de Angola com sotaque da banda e escreve Angola, oferecendo a quem estiver atento uma versão da história vivida desde antes da independência aos nossos tempos.
“Predador”
Animal que se alimenta atacando outros seres vivos para os matar e se alimentar da sua substância.
O livro começa com o artista a matar a sua amante porque esta tem um amante. Matou-a a tiro, retirou as luvas e deixou um bilhete “Ninguém trai a UNITA sem deixar a vida!” Artista porque a personagem principal cria o seu nome, inventa uma origem que muda com a história política do país e apresenta um jogo de cintura que faz lembrar a Shakira.
O livro fala do novo-rico sem cultura, da primeira esposa, dos seus filhos que se perdem em dinheiro, do idealista, das catorzinhas, das parcerias com outros países, da política, dos esquemas, de peixe pequeno que vira tubarão, e do jacaré que dorme e vira mala.
O livro atravessa gerações desde a guerra e acaba em 2004, altura em que Angola estava na moda; em que muitos dos que fugiram voltavam e procuravam os seus antepassados, reescreviam as suas histórias onde inscreviam ligações com a Angola. “Achavam que o país era deles, se babavam todos com as riquezas reais ou supostas de Angola, a terra do futuro…”
Neste livro, Pepetela continua a escrever a história recente de Angola, revista em personagens, que quase conseguimos reconhecer na nova novela ou nas várias “reportagens” sobre a nova Angola. E, no final do livro, nós acabamos por nos questionar…? Afinal quem são os predadores?
Publicado originalmente em 2014