CEMICLAY VERA SANTOS 27/09/2014
O Festival de Cinema Queer decorreu em Lisboa, entre os dias 19 e 27 de setembro, no Cinemateca Portuguesa e no Cinema de São Jorge.
A semana foi marcada por várias exibições de curtas e longas-metragens, com variadas manifestações do cinema e da cultura Queer.
A partir da visualização dos filmes, os visitantes do Festival de Cinema Queer poderam ter acesso a narrativas sobre diversos modos de expressar sexualidades marginalizadas na sociedade, podendo assim falar sobre o assunto ou até mesmo esclarecer várias dúvidas.
Na exibição do filme: “ The Man Who Drove with Mandela”, eram vários os visitantes. Entre eles, muitos estrangeiros, alguns portugueses, sendo que cada um tinha uma expectativa para com o filme e o Festival.
Alguns já tinham estado presentes em outros festivais, por isso, tinham boas expectativas para este “Queer Focus on Africa”. Outros eram curiosos e até mesmo pessoas que pretendiam quebrar os seus preconceitos perante a homossexualidade.
O público era variado, desde jovens até idosos. A homofobia foi um dos temas presentes nos vários filmes, particularmente do “Queer Focus on Africa”, que também foi discutido em debate numa das salas do Cinema de São Jorge.
“África para lá da heteronormatividade” foi outro dos temas dos debates, com a presença de Beverley Palesa Ditsie, Lia Viola, Albino Cunha, Amanda Kerdahi, como oradores e José Fernandes Dias, como moderador. Os oradores partilharam com o público as suas várias experiências e reflexões dentro do tema, procurando debater as várias expressões queer no continente africano.
Lia Viola, antropóloga cultural, através do seu estudo e reflexão sobre a homofobia na África subsariana, chamou a atenção para o facto de a homofobia já atingir um grau de violência tal que se não houver um cuidado, esta pode vir a ser tornar-se um culto contra os homossexuais. Lia Viola salienta também que a luta contra a homofobia é uma responsabilidade social.
A palavra homossexualidade já foi e continua a ser, em determinados pontos do continente africano, tomada como “tabu”. São vários os mitos que descrevem África, como um continente sem homossexualidade, mas o cinema queer abre portas para o esclarecimento dos mesmos e a distinção entre “homossexualidade” e “comportamentos homossexuais”.
Opinião Queer Focus on Africa, por Cemiclay Vera Santos
Quando olhamos para o tema, o primeiro público que imaginamos é a comunidade africana. Mas, essa não foi a realidade do Queer Focus On Africa que este ano foi o foco do Festival Internacional de Cinema Queer.
A comunidade africana tem o espírito habitual de estar presente em tudo o que representa a sua cultura, pois a nossa educação faz de nós seres mais unidos, e devido a nossa história de termos vivido em comunidade, somos seres de natural partilha.
Mas o tema do Festival de Cinema poderá ser um dos motivos que alterou a natureza africana de cada um, a palavra homossexualidade poderá ter sido um dos motivos que manteve longe os africanos. Como sabemos, o tema continua a ser um tabu para muitos em África.
Tomei a liberdade de questionar a alguns afrodescendentes e até mesmos africanos, o porquê de estes não interpretarem este tema como algo interessante, ou até mesmo curioso de ser abordado e discutido. Na maioria das respostas, todos foram sinceros e esclareceram que o facto de irem ao Festival de Cinema Queer poderiam ser vistos como homossexuais.
Mas, como foi dito num dos debates do Queer Focus Africa, é necessário questionar, discutir sobre o tema para que os nossos pontos de vista possam mudar, para que tenhamos uma visão mais ampla e até mesmo livre de preconceitos, pois não podemos basear-nos apenas no que ouvimos mas sobretudo nas respostas que conseguimos obter.
Esta é a proposta que faço a cada africano, que possam sair da sua zona de conforto, não tenham medo de serem conotados, mas sim vençam preconceitos que vêm de uma história, de uma cultura que pode ser moldada.