Mulheres nos media: o percurso de Aissatu Nhima Seide

No âmbito da comemoração do mês da liberdade de imprensa e da sua importância, a Afrolis conversou com a Aissatu Nhima Seide, jornalista, ativista social e cultural que começou o seu percurso na estação comunitária Guineense Rádio Voz de Quelele, e no ano 2019 foi vencedora de prémio jornalismo dos direitos humanos, atribuído pela Liga Guineense dos Direitos Humanos, em Bissau.  Durante a entrevista, Aissatu Nhima Seide fala-nos sobre o seu percurso, desafios e objetivos de carreira.     

Aissato Só: Olá, Aissatu Nhima Seide, muito obrigada por nos conceder esta entrevista. Gostaria de começar perguntando sobre sua trajetória na comunicação social. Como você começou e quais foram os desafios que enfrentou ao longo do caminho?

Aissatu Nhima Seide: Olá! É um prazer estar aqui. Minha jornada começou no ano de 2013, na rádio comunitária Voz de Quelele como repórter, cobrindo diversos assuntos, desde política até cultura. Ao longo do caminho enfrentei vários desafios, especialmente por ser uma mulher em um setor dominado por homens.

Um dos principais desafios foi superar estereótipos de género e provar constantemente minha competência e habilidades. Muitas vezes, me deparei com situações em que minha opinião era desvalorizada e ignorada simplesmente por ser mulher. Além disso, a falta de igualdade de oportunidades também foi um obstáculo, com menos mulheres ocupando cargos de liderança ou tendo acesso a recursos e treinamentos adequados.

AS: Compreendo. E como você enfrenta esses desafios ao longo de sua carreira?

ANS: Enfrentar esses desafios foi uma jornada contínua de perseverança e determinação. Em primeiro lugar, busquei capacitar-me constantemente, participando de workshops, seminários e cursos de formação na área de comunicação. Acreditava que, ao aprimorar minhas habilidades e conhecimentos, poderia ganhar mais respeito e credibilidade.

Além disso, encontrei força na solidariedade entre mulheres jornalistas. Formamos grupos de apoio e compartilhamos experiências, buscando fortalecer umas às outras e levantar questões sobre a igualdade de gênero nos media. Também fui persistente em mostrar meu trabalho e conquistar meu espaço, provando que o meu valor como profissional não estava relacionado ao meu género. E quando fui convidada para trabalhar na rádio capital CFM, fiquei com um peso na consciência, porque éramos poucas mulheres na rádio voz de Quelele e tínhamos um laço muito forte e espírito de equipa. <demorei para aceitar o convite, mas acabei por aceitar e fui trabalhar na rádio capital como diretora de marketing e publicidade.  

AS: Qual é a importância da rádio comunitária Voz de Quelele na Guiné-Bissau?

ANS: Eu costumo dizer que a rádio comunitária Voz de Quelele é uma escola, porque a maioria dos jornalistas de renome hoje na Guiné-Bissau passou por lá. Foi onde aprenderam o ABC do jornalismo. Por exemplo, no meu caso, sou testemunha viva desse feito. Quando eu comecei a trabalhar lá, eu não tinha a noção total do que é uma estação emissora, porque eu só ouvia a rádio em casa, mas sabia que era aquilo que eu queria fazer, então foi uma mistura de emoções, na altura. E hoje sinto que foi um sonho realizado e também sinto que se não tivesse entrado na rádio Voz de Quelele, se calhar não estaria aqui hoje onde estou. Por isso, afirmo que a rádio comunitária Voz Quelele, mesmo não ganhando salário na altura que trabalhei lá, mas sinto que ganhei tudo em termos de conhecimento e de valor.

AS: No contexto específico da Guiné-Bissau, existem dificuldades que as mulheres enfrentam ao ingressarem na carreira jornalística, se sim quais?

ANS: Na Guiné-Bissau, como em muitos outros países, as mulheres na comunicação social enfrentam desafios semelhantes. Além dos estereótipos de género e da falta de igualdade de oportunidades, há também obstáculos culturais que dificultam o avanço das mulheres nessa área. Por exemplo, há uma expectativa social de que as mulheres se concentrem mais em tarefas domésticas e cuidados familiares, o que muitas vezes limita sua capacidade de se dedicar plenamente à profissão. Além disso, a violência de género também é uma preocupação, pois muitas mulheres jornalistas enfrentam assédio. Contudo as mulheres devem manter a postura perante o seu trabalho e não deixarem-se levar pelo medo ou pela intimidação porque só assim conseguem mostrar o profissionalismo e com isso ter o respeito dos colegas.

AS: Que tipos de medidas você acredita que podem ser tomadas para promover a igualdade de género e empoderar as mulheres na comunicação social?

ANS: Para empoderar as mulheres na comunicação social guineense é preciso  de esforço de cada uma de nós, porque quando estamos numa redação tem que ser a própria mulher a saber impor e defender os seus direitos e deveres, não esperar só pelos trabalhos jornalísticos de coberturas fáceis, no terreno.  

AS: Como a participação das mulheres na comunicação social contribui para uma sociedade mais inclusiva e diversa na Guiné-Bissau?

ANS: As mulheres realmente podem contribuir e muito para uma sociedade mais inclusiva porque são pacificadoras no geral. Como diz o ditado: “. Sendo assim, tendo mais oportunidade pode fazer mais. A mulher é um ser que tem paciência e é isso que lhe dá a margem de ver as coisas de uma forma simples. Transpondo o coração da mãe que uma mulher possui, que é a generosidade para comunicação social, acaba por fazer realmente muita diferença. E também peço às mulheres guineenses para não entrarem na comunicação social para obterem fama, mas sim para serem boas no que fazem, como por exemplo na Guiné-Bissau, temos mulheres que, por mim considero referências nacionais que são Fátima Tchuma Camara e Indira Correia Balde. São mulheres que chegaram onde estão hoje pelo mérito e não pela fama.

 

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