Por Cristina Carlos
Eu sou angolana, mas não posso, nem devo falar pelo povo. Para “eles” o meu gingar é tão estranho como o meu falar – rápido demais, mesmo para o Semba e em flagrante desrespeito pelas regras básicas da dança nacional.
Na vida como na dança, o homem manda e não se enfrentam os obstáculos, contornam-se! E, entre a saída da mulher e um retrocesso bem feito, mantendo calmamente a postura, como que se caminhando, fala-se sorrindo com o adversário, enquanto a música chora “ me tiraram a vaidade…”.
Gosto da dança, admito. Não respeito todas as regras e, por vezes, o meu par fica cansado. Mas com uma risada nervosa, é verdade, já não peço desculpa – disfarço! Aula N.1: a mulher nunca se engana é mal conduzida!
Kizomba é uma dança completa, complexa e tão distinta como cada parceiro que te pede para dançar. Aprendi a ter calma e não aceitar dançar com toda a gente, porque os meus passos são jovens e inseguros, logo convém ganhar confiança… Gosto de dançar com o profissional que me faz brilhar, com uma condução sem falhas, e até eu que sou novata na coisa pareço ter nascido a dançar. Também posso dançar com o moço gostoso que “me deixa nervosa” , mas tem sempre algo de novo para me ensinar, mesmo que pare a meio para me corrigir, desde que fale e continue a dançar. Adoro o querido que se esforça tanto para me ensinar novos passos, que aposta em dar reforço positivo. Ele faz tanto esforço, vejo-o a lutar contra os meus vícios, lá sorri e diz “vamos começar de novo”. Mas fico bem longe do Mr. Swag que, simplesmente, não permite espaço entre nós, peço licença e ele diz “ Vê-se logo que é de Lisboa!”.
Mas o meu cabelo já é tissagem brasileira e tenho roupa que só uso em Angola. Por isso vou-me deixar estar assim, entre o Semba e a passada até aprender a atarraxar em sociedade… quiçá a minha fala se molde ao ritmo nacional e aí sim eu seja uma Angolana de verdade.