Dormindo no mar
entre corpos desconhecidos
que quando se movem formam ondas humanas
E surgem os toques inesperados,
as respirações, mais ou menos ofegantes,
as vozes, mais ou menos graves,
que penetram os nossos ouvidos,
quase adormecidos pelo balançar do barco,
que se deixa embalar pelo mar.
Deitados no chão,
tentamos atrair o sono com um livro
lido à luz dos intervalos das manchas de sombras
de passantes distraídos em conversas animadas.
As tentativas de atrair o sono
revelam-se vãs…
E acabamos por entrar também em conversas.
Mais ou menos animados,
falamos da falta de sono,
das condições que nem são más,
ou dos cheiros que podiam ser piores.
E quando se esgotam as banalidades
acabam-se as conversas.
Resignados, lá voltamos a tentar dormir.
Os breves momentos de sono profundo
fazem esquecer o desconforto do chão.
Assim se dorme no mar,
dormindo entre ondas de corpos desconhecidos.
(Agosto 18, 2011 – a caminho da ilha de S. Vicente, Cabo Verde)
Por Carla Fernandes