Saudades

Saudades Sonia 1por Sónia Vaz Borges

Sinto saudades.
Sinto saudades de dançar.
Sinto saudades de dançar, mesmo que tenha dois pés quase esquerdos e nunca tenha atinado muito com os passos de kizomba e funaná e zouk nas longas noites africanas de Lisboa dos anos 90,
onde dançar era um prazer suado cheio de risos,
e não uma demonstração de passos técnicos memorizados como acontece hoje.
Sinto saudades de dançar onde o corpo era um todo e não um somente rebolar aqui e ali.
Sinto saudades de dançar,
dançar uma dança onde o companheiro embora num passo trocado e desequilibrado de dois pés quase esquerdos que tenho,
sabia levar-te e continuar a dança sem criticar e no meio de risos
” não tem mal, continua a dançar, o importante é dançar” dizia.
Sinto saudades de dançar e de ouvir uma musica sensual e não uma musica de caráter quase pornográfico medíocre.
Sinto de saudades de dançar.
Sinto saudades das músicas decoradas em frente ao rádio,
ou do set do Dj.
Sinto saudades de dançar,
onde num dançar aprendia sobre as histórias e o Cabo Verde dos meus pais e ainda no meio praticava o meu crioulo.
Sinto saudades de dançar,
onde a dançar aprendi o romance e as ser romântica.
Sinto saudades de dançar, e do pós dançar,
em que de madrugada ia-se para casa com os pés doridos, mas o ritmo continuava nos pés e o zumbido de uma noite ainda ia nos ouvidos e nas camionetas cheias.
Sinto saudades das festas em família, e da mesa sempre cheia.
Sinto saudades de dançar,
com os meus primos e primas, tios e tias, avós e vizinhos,
com as minhas irmãs e os meus pais.
Hoje deu-me para isto.
Sinto saudades de dançar,
em que dançar era brincar, rir, brigar.
Sinto saudades de dançar.
Sinto saudades de muitas coisas.
Sinto saudades

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