No dia 14 de junho, a Escola de Verão Feminista Sem Fronteiras, em Lisboa, recebeu a apresentação de dança que mergulhou fundo na riqueza e na essência dos Orixás. O público teve a oportunidade de testemunhar a manifestação das energias femininas dos Orixás por meio da performance da Antonyo Omolu. Artista performativo híbrido entre o teatro e a dança que navega nas águas da antropologia teatral, enquanto pesquisadora prático-reflexivo-teórico desta dinâmica apresenta-se como atriz-bailarina. Tem mestrado em Artes com foco em metodologia do ensino em dança afro-brasileira, licenciatura e pós-graduação em filosofia e pós-graduação em teatro.
A Dança dos Orixás é uma forma de expressão artística que encontra suas raízes nas tradições das culturas africanas, mais especificamente na religião Yoruba. Os Orixás são divindades veneradas nessa tradição religiosa e cada um deles representa diferentes aspetos da natureza e das experiências humanas. Nessa apresentação, o foco estava nas energias femininas dessas entidades divinas, capturando suas energias da terra, água e do ar.
Antonyo Omolu falou-nos sobre a sua perspetiva ao trabalhar com a estética da dança sobre os Orixás, divindades religiosas do candomblé do Brasil ou da cultura afro-brasileira, porque só chegou ao país “através dos povos escravizados pelos colonialistas, que nos sequestraram e nos acorrentaram, mas não conseguiram tirar as nossas culturas, as crenças nas divindades e nem a nossa fé. Por isso que existe há muito tempo na Bahia uma prática de retirar a estética da dança do contexto religioso para levar para o palco o visual e expressivo, que também é muito bonito”.
A Omolu explicou o motivo da escolha das três energias femininas, a energia da Pomba Gira (terra), Oxum (água doce) e Iansã (ventos) porque são muito representativas no contexto do que é o feminino:
“Existem outras Orixás femininas, mas neste momento da minha vida e da minha escolha, elas são a base de discussões sobre empoderamento para mim, sendo uma pessoa queer não-binaria, as nossas lutas têm como referência o feminismo negro. E quando trago esta performance para Lisboa, ela também está dentro do contexto de luta e de resistência e de um movimento político artístico ou uma dança artística e estética, que quer dialogar e não confrontar outras estéticas de dança.”
E acrescenta: “Por outro lado, a autora da performance esclareceu sobre IABÁS (as mães) que pertence à cultura dos Yorubas. O Brasil existem três grandes troncos linguísticos culturais que são os Bantus que se chamam no Brasil como candomblé de Angola, os Yorubas que tem referência na Nigéria e os Fons que pertence ao Benin, aprendi essas técnicas de dança em salvador que é muito influenciado pelo candomblé Yorubá, apesar de ser praticante de umbanda que é uma religião brasileira.”
Confira o vídeo de um trecho da entrevista: