Não serei eu mulher?

Ossadas perdidas no tempo, não a bíblica costela,
Mas de ancas, essas, sim, definem uma mulher.
Ancas largas o suficiente para que uma criança passe por elas
E quem as tem estreitas? Não é mulher?
Ou o peito voluptuoso para despertar o desejo do homem
E para alimentar a mesma criança que passou pelas ancas
E quem o tem pequeno? Não é mulher?
O cabelo quer-se longo e sedoso para delícia do homem
E para tortura da mulher, que o estica, compra e aplica para se sentir mulher.

Existimos num mundo de extremos para delícia e tortura alheias,
Completamente cobertas de virtude ou despidas de pudor.
No mesmo livro somos pecado e salvação,
No mesmo mundo somos donzela e meretriz,
E a nossa estória é forjada por um golpe de sorte ou azar que nos fez nascer
Aqui, ali ou além-mar
E se ousas viver para além da tua sorte, do teu lugar, do teu tempo, da tua cor
Tens azar!
É a tortura de quem se vê isolada e renegada para segundo plano na sociedade.

Não serei eu uma mulher?
Com peito voluptuoso e ancas largas por onde não passaram crianças?
Com cabelo crespo numa coroa africana entrançada com flores.
Defino-me como um ser, com as virtudes e pecados, de todos os humanos.
Transcendo fronteiras, religiões, línguas e tradições.
Aqui, ali e além-mar.
E ouso viver para além da minha sorte, do lugar onde nasci e da cor da minha pele,
Para abraçar a bênção e a delícia de ser mulher.
Mulher que se rebela, se transforma e leva consigo toda a sociedade.
Sim, eu sou simplesmente mulher.

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