Nós Nos Livros: “Americanah” de Chimamanda Adichie

Eu acho importante ler este livro porque…

Por Eliana Nzualo

Este livro conta a história de uma jovem nigeriana nos Estados Unidos da América, que devido à instabilidade política é levada a abandonar a Universidade no seu país de origem.

À medida que o drama se vai desenrolando Ifemelu, a protagonista, é levada a confrontar-se com o desespero de se querer integrar, com a obrigatoriedade de fugir de estereótipos e com a necessidade de descobrir quem ela é para além da cor da pele ou da textura do cabelo.

A prosa da nigeriana Adichie, rica em poesia, consegue retratar a complexidade das partidas e chegadas de quem vive imigrantemente. Uma das minhas passagens favoritas é a seguinte:

“Alexa and the other guests, and perhaps even Georgina, all understood the fleeing from war, from the kind of poverty that crushed human souls, but they would not understand the need to escape from the oppressive lethargy of choicelessness. They would not understand why people like him who were raised well fed and watered but mired in dissatisfaction, conditioned from birth to look towards somewhere else, eternally convinced that real lives happened in that somewhere else, were now resolved to do dangerous things, illegal things, so as to leave, none of them starving, or raped, or from burned villages, but merely hungry for choice and certainty.”

[Alexa e os outros hóspedes, e talvez até mesmo Georgina, todos entendiam a fuga da guerra, do tipo de pobreza que esmaga as almas humanas, mas eles não entendiam a necessidade de escapar da letargia opressivo da não-escolha. Elas não entendiam por que pessoas como ele que foram criados bem alimentados e com água para beber mas que estavam mergulhados na insatisfação, condicionados desde o nascimento a olhar para outro lugar, eternamente convencidos de que a vida real acontece em algum outro lugar, estavam agora decididos a fazer coisas perigosas, coisas ilegais, como partir, nenhum deles faminto, ou estuprado, ou vindo de aldeias queimadas, mas apenas famintos por ter escolhas e certezas.]

A autora consegue, com muito humor e elegância, debater racismo e xenofobia de um modo atrevido.

“Dear Non-American Black, when you make the choice to come to America, you become black. Stop arguing. Stop saying I’m Jamaican or I’m Ghanaian. America doesn’t care.”

Em vários romances facilmente a mulher não passa de uma sombra para o homem, o herói. Não em Americanah. Embora haja uma constante história de amor, o centro de tudo é Ifemelu e todas as dúvidas existenciais que a atormentam.

Ifemelu apaixona-se por homens negros e brancos. Debate-se entre o regresso à Nigéria e a permanência nos Estados Unidos. Chora pelo seu cabelo natural e desfrisado. E nesses dilemas vai-se reencontrando e perdendo mais um pouco.

Recomendo este livro pela forma que ele me conhece e retrata como uma jovem africana, muitas vezes em situações que me colocam em conflito com a(s) minha(s) própria(s) identidade(s), num mundo em que a busca por um habitat saudável para o meu crescimento é difícil e desconfortável, não só para mim, mas para todos os que me rodeiam.

Publicado originalmente em 2015

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