África

Um continente com 54 estados, cobrindo uma área de 30 milhões de km², o que representa 20% a superfície da terra, África tem cerca de 1.4 bilhões de habitantes e um PIB (Produto Interno Bruto) de $2.9 trilhões em 2022… o que seria de nós, se juntos, decidíssemos esquecer o que nos separa e concentrarmos nas nossas semelhanças? Já imaginaram como seria uma África realmente unida? 

Em maio comemora-se a primeira tentativa formal de união africana, estabelecida a 25 de maio de 1963, quando a Organização da Unidade Africana foi substituída pela União Africana e fundada a 9 de julho de 2002.  Admito que não sei bem qual é o mandato da União Africana, mas sei que não é abrangente o suficiente. E antes de nos debruçarmos em cada uma das válidas razões que impedem a criação dos Estados Unidos de África, eu quero focar-me no que faz com que seja imperativo que isso realmente aconteça.    

Muitos de nós não registam o fato de que no início do século XX, a esmagadora maioria dos países que nós reconhecemos, eram colónias de meia dúzia de países europeus. Viver sob o jugo de um poder colonial não foi uma realidade exclusivamente africana, países como Afeganistão, Qatar, Nigéria, Egito, Índia e Santa Luzia tornaram-se independentes do Reino Unido no século passado. Um século que foi palco de duas guerras mundiais, onde muitos dos soldados foram recrutados nas colónias dos países imperiais. Depois da Segunda Guerra, o sentimento de que a independência era não só um imperativo moral, mas também possível, foi crescendo em todas as colónias. E os movimentos de independência foram sucedendo, sustentados pelo sucesso de cada nova vitória contra um governo colonial. 

Cada governo colonial teve de balançar forças internas e pressões externas antes de reconhecer a independência de territórios sob a sua esfera de influência. Em 1960, é denominado o ano de África porque foi o ano em que 17 nações africanas ganharam a independência das nações imperialistas. Camarões foi o primeiro país a 1 de janeiro de 1960, o ano em França perdeu 13 colónias. 

A 30 de Junho de 1960, Patrice Lumumba, o primeiro-ministro da República Democrática de Congo, faz um discurso histórico no Dia da Independência do seu país, dirigindo-se ao povo congolês, ele elogia a independência como o culminar da luta do movimento nacionalista, e não um presente resultado de concessões belgas. Ao descrever o sofrimento pessoal dos nacionalistas e ao enumerar o sofrimento do povo comum congolês sob o colonialismo, através de trabalho forçado, discriminação racial sistemática, apreensão de terras, disparidade de riqueza e maus-tratos físicos nas mãos do Estado colonial, Patrice enfatiza o valor moral desta vitória. 

Portugal resistiu o quanto pode à onda de descolonização, mas acabou por sucumbir à determinação dos povos das suas colónias, depois de 13 anos de guerra colonial em várias frentes (Angola, Guiné Bissau e Moçambique), o desgaste financeiro, as baixas dos soldados, as deserções em Portugal. Patrice diria que os cravos vermelhos simbolizam todo o sangue derramado no ultramar, que veio a permitir uma revolução sem sangue na metrópole, em 1974. 

O colonialismo é mencionado, não para nos desculparmos do estado atual dos nossos países, mas para recordar o fervor das nossas lutas de independência, não para nos debruçarmos nos assassinatos dos nossos heróis, mas da capacidade de visão inspiradora que eles tiveram para movimentar os povos em busca de uma vida melhor para cada povo africano. Agostinho Neto, o primeiro Presidente de Angola, era médico e poeta, os filhos estudavam em Luanda e eles eram atendidos nos hospitais do país. Imaginem o que seria de África se todos os nossos presidentes decidissem fazer o mesmo. 

Einstein, define insanidade como fazer a mesma coisa repetidamente e esperar um resultado diferente. 

Nós tentamos de tudo, novos laços com o antigo colono, novos parceiros em desequilíbrio de poder, mas mais do mesmo. Nós oferecemos recursos e mão-de-obra em troca de papel colorido, com as nossas moedas indexadas ao nível de confiança que os nossos mercados inspiram, o nosso dinheiro vale o que os outros decidem que vale. Uma verdadeira mudança seria um investimento no princípio de Umoja, no princípio de unidade familiar, comunitária, nacional e racial. 

O que seria de África, se como na Comunidade Europeia, nós pudéssemos simplesmente circular, viver, estudar, abrir negócios nos diferentes estados sem burocracia? Partilhar recursos, infraestrutura, conhecimento, participar na arena internacional como um bloco unido, protegendo-nos de ataques bélicos, culturais ou financeiros? E se fossemos os principais beneficiários dos nossos recursos naturais? Se fossemos nós a recolhê-los, transformá-los e a consumir o que é nosso? Se o recurso mais valioso de África continuasse no continente? As suas pessoas, com a formação, o engenho, o empreendedorismo e o talento que teima em migrar para outros continentes. Se conseguíssemos manter tudo em África, nós seríamos imparáveis, e Wakanda não seria ficção, mas sim o futuro.

Traduzir
Scroll to Top