Afrolis celebra 9 anos de existência

No dia 17 de abril de 2014, nasceu o audioblogue Rádio Afrolis, que hoje é a plataforma Afrolis.pt. A proposta era fazer entrevistas a afrodescendentes a viver em Lisboa. E o primeiro programa que tratava sobre media e estereótipos raciais começava assim:

“Para alguns afrodescendentes a cidade de Lisboa é claramente a sua cidade. Para outros, Lisboa é uma cidade como outra qualquer, apesar de terem nascido ou de sempre terem vivido nela. Outros há, que rejeitam Lisboa porque sentem que não é o seu lugar. No caso dos afrodescendentes negros, a questão da pertença relaciona-se, por vezes, com questões de representação nos media ou em espaços sociais diversificados, mas, acima de tudo, com a discriminação e o racismo. E surge a pergunta: Eu, como negro ou negra, africano ou africana, devo, posso, quero assumir-me como afrolisboeta? E serão precisamente as inúmeras combinações de respostas que vamos apresentar nos nossos programas. Acompanhe-nos por ser afrodescendente, por interesse na temática, pela vontade de conhecer outras vivências de Lisboa, ou até mesmo por querer acrescentar algo à discussão.”

E ao longo de 9 anos diversas pessoas participaram da discussão pelos mais variados motivos; a maioria por serem afrodescendentes e querem celebrar ou apresentar as suas culturas, comunidades e artes; muitos por estudarem temáticas relacionadas; outros por procurarem a mudança social e estarem cientes dos males do racismo e da discriminação racial e outros ainda porque sim. Foram cerca de 200 entrevistas, incontáveis registos fotográficos e dezenas de artigos a retratar a “experiência africanizada de Lisboa”, como dizíamos na altura. Entrevistámos muitas das figuras públicas de hoje, antes de o serem, como as ex-deputadas Joacine Katar Moreira e Beatriz Gomes Dias. Testemunhámos o nascimento de associações como a FEMAFRO, INMUNE, Djass, entre outras. Acompanhámos casos de violência policial como o da esquadra de Alfragide ou do Bairro Jamaica. Retratámos, através da série sobre Justiça Racial Retratar e Educar Podcast (R.E.P.), Cláudia Simões, Bruno Candé, Giovanni Rodrigues, Alcindo Monteiro e Ângelo Semedo. 

Fizemos parte do grupo de 22 associações, que representam milhares de afrodescendentes negros em Portugal, que redigiram e enviaram uma Carta Aberta ao ao Comité das Nações Unidas para a Eliminação da Discriminação Racial a criticar o Estado por não reconhecer a necessidade de políticas específicas para as nossas comunidades. Participámos de iniciativas como a 7ª Conferência Bianual da Rede Afroeuropeans: “In/Visibilidades Negras Contestadas” realizada em Lisboa (ISCTE – IUL), em 2019. Esta é uma plataforma europeia para a produção de conhecimento nas áreas de pesquisa transdisciplinar sobre racismo, culturas negras e identidades. A conferência, realizada em diferentes cidades da Europa, oferece a possibilidade de fortalecer e alargar redes entre académicos, ativistas e artistas que criticam o racismo estrutural e que produzem conhecimento pós-colonial sobre a negritude europeia e a diáspora africana. 

Para além destas iniciativas outras atividades que se realizaram já através da Afrolis –  Associação Cultural, como a publicação do livro Djidiu – A Herança Do Ouvido, resultado de um ano de encontros e reflexão sobre a experiência de pessoas negras na cidade de Lisboa. A obra é resultado de diversos encontros realizados entre março de 2016 e março de 2017, que mobilizou pessoas negras a participar na produção e divulgação de textos da sua própria autoria ou de autores que considerassem relevantes. 

Realizámos também sessões de cinema e conversa, o Afrotela, que chegou a ter a curadoria do ator guineense internacionalmente reconhecido, Welket Bungué. Foi um projeto que olhou para afrodescendentes na tela e discutiu as representações disponíveis das nossas comunidades. As primeiras duas sessões foram no mês de outubro de 2016 com filmes que retratavam afrolisboetas e para as quais foram convidados participantes dos filmes para debater as temáticas. De novembro de 2016 a março de 2017, a curadoria das sessões e organização dos debates que se seguiram ao visionamento dos filmes ficou a cargo da Nega Filmes Produções. As sessões passaram a ser mensais e feitas em dois locais por mês, uma vez no centro de Lisboa (Casa Mocambo) e outra na Cova da Moura (Tabacaria Tropical). Em 2019, as sessões voltaram à Casa Mocambo apenas e a Afrolis convidou o ator e realizador Welket Bungué para ser o curador.

A literatura também teve o seu espaço nas atividades da Afrolis com os encontros e resenhas Nós Nos Livros em que sugeríamos livros de autores africanos e da diáspora. Todas as propostas da Afrolis servem o propósito de reconhecer a centralidade das vivências de pessoas negras em território português e em todas as suas extensões. Em 2023 vamos celebrar mais um ano de resistência e partilhar com quem nos segue e quem apenas agora nos conhece , no final do mês de abril, na Casa Mocambo, espaço que acolheu com os braços abertos muitas das nossas atividades durante o nosso percurso. A continuidade do nosso trabalho depende destes momentos de trocas pessoais em que temos a oportunidade de conhecer de perto quem acompanha o nosso trabalho e receber um feedback direto para melhorar a cada dia, a cada ano. Obrigada!

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