Desafios da Integração Profissional de Imigrantes em Portugal: O caso de uma médica bengali

Obter a equivalência de um diploma estrangeiro, em Portugal, pode ser uma tarefa complexa e desafiadora. O processo envolve várias etapas e pode levar tempo e esforços significativos. Mas foi a procura de segurança que levou a médica Bengali Shammi Akther a emigrar para Portugal. “Decidi mudar-me  para Portugal à procura de segurança para a minha família, sobretudo para a minha filha menor de idade. Não é novidade para ninguém que no meu país existem muitos problemas relativamente à violência infantil. E, entre outras coisas, não foi uma decisão fácil de tomar, para uma pessoa que trabalhou a sua vida toda. Porém, pela segurança da minha família, escolhemos Portugal para viver, que, segundo os meus familiares que cá estão, é um país seguro.”

Bangladesh é um país do sul da Ásia com uma população de cerca de 164 milhões de habitantes. É conhecido pelos seus desafios económicos e sociais, o que torna expectável as dificuldades que os seus cidadãos têm para encontrarem emprego e terem sucesso nas suas carreiras. A violência infantil  no Bangladesh é uma questão complexa que abrange diferentes formas de abuso, como abuso sexual, violência física e emocional, trabalho infantil, tráfico de crianças e casamento infantil. Segundo a UNICEF, cerca de 62% das crianças do país experimentaram violência física em algum momento das suas vidas, enquanto 33% foram vítimas de violência sexual.

A médica Bengali, Doutora Shammi Akther, faz parte do Conselho Local de Imigrantes de Lisboa, e ingressou num curso de língua portuguesa no Centro Ismail, na Fundação Aga Khan, precisamente, porque uma das principais barreiras com as quais as mulheres médicas do Bangladesh se deparam, em Portugal, quando procuram exercer a sua profissão, é a língua. A falta de conhecimentos linguísticos impede a compreensão de muitos exames e documentos relacionados ao trabalho, ao qual gostariam de ter acesso e a conclusão dos processos necessários. “Estar a viver este processo de conseguir uma equivalência e poder trabalhar, em Portugal, na minha área, não deixa de ser desgostoso e demorado”, partilha a ginecologista, Shammi Akther. 

Existem várias etapas que os candidatos precisam de ultrapassar, incluindo a tradução, a homologação de documentos, a apresentação de provas de proficiência em português e a realização de exames de equivalência. A homologação dos documentos é uma das etapas mais desafiadoras do processo de reconhecimento da equivalência, que a doutora Shammi Akther enfrenta neste momento. “Os documentos precisam ser legalizados pelas autoridades do meu país, pelo consulado português no meu país e, em seguida, pela Direção-Geral do Ensino Superior (DGES), em Portugal, e sem contar com outras entidades competentes, que são titulares da minha área, que é a saúde. Isso pode ser um processo demorado, desgastante e caro”, conta a Doutora Akther.

“Nem sempre as qualificações e competências obtidas em um país são equivalentes ou comparáveis aos padrões exigidos em outro. Isso pode dificultar a obtenção da equivalência, especialmente em profissões como o da minha área que normalmente são regulamentadas ou muito exigentes “

 A médica especialista em ginecologia acrescenta que existem outras dificuldades enfrentadas pelos profissionais de saúde do Bangladesh, como é o caso de ter que que passar por cursos adicionais e exames para provar que possuem as habilidades e conhecimentos necessários para trabalhar, em Portugal, o que “é muito difícil conseguir, especialmente, quando se trata de terminologia médica específica, porque os custos são maiores e os  processos são demorados”, completa.

De acordo com dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), o número de cidadãos de origem bengali registados em Portugal tem vindo a aumentar nos últimos anos, só em 2021 o número de profissionais bengali aumentou em 72,9% e na área dos estudos  para 2,2%.

A doutora Shammi Akther conta ainda que os médicos do Bangladesh, que vivem em Portugal, enfrentam uma grande concorrência por empregos. Apesar de Portugal precisar de profissionais de saúde, é um país com profissionais altamente qualificados. O que significa que pode ser difícil para os médicos bengalis encontrarem trabalho na sua área de especialização. Frequentemente, têm de contentar-se com empregos em áreas menos desejáveis ou aceitar empregos menos qualificados, o que pode ser frustrante para quem trabalhou muito para obter o seu diploma em medicina.

Akther acrescenta ainda uma outra questão relevante, na sua opinião, que é a diferença entre os sistemas educacionais e profissionais de cada país. “Nem sempre as qualificações e competências obtidas em um país são equivalentes ou comparáveis aos padrões exigidos em outro. Isso pode dificultar a obtenção da equivalência, especialmente em profissões como o da minha área que normalmente são regulamentadas ou muito exigentes “, sublinha.

A especialista na área da ginecologia, apela às autoridades competentes da área de saúde a começarem a pôr em prática as recomendações que recebem das organizações que apoiam os imigrantes em Portugal, por exemplo, criando uma estrutura específica para a realização das equivalências dos profissionais da área de saúde que procuram este país.   

Além disso, médicos do Bangladesh podem enfrentar preconceitos ou discriminação em Portugal que, segundo Akther, não é incomum para imigrantes em muitos países do mundo, e médicos/as do Bangladesh não são uma exceção. Eles podem enfrentar preconceitos baseados na sua etnia, religião ou nacionalidade, o que pode tornar ainda mais difícil encontrarem emprego e estabelecerem-se nas  suas áreas.

A doutora Akther é apenas um dos muitos exemplos de profissionais da área da saúde, que enfrentam desafios quando se trata de encontrar emprego. As barreiras linguísticas, dificuldades na validação de seus diplomas, concorrência por empregos e preconceito ou discriminação, podem ser superados com determinação e perseverança, mas não são uma garantia de sucesso. 

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